A endarterectomia é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção da placa de aterosclerose que está bloqueando a artéria, restaurando assim o fluxo sanguíneo. Embora atualmente outros procedimentos menos invasivos que a endarterectomia estejam disponíveis, ela normalmente é a opção mais eficaz, mais durável, mais segura e menos onerosa.
As paredes das artérias normalmente são lisas e elásticas. Com o passar dos anos (envelhecimento), elas sofrem um processo de endurecimento e reação inflamatória crônica (aterosclerose). A placa que se forma na aterosclerose é composta de substâncias como colesterol, cálcio e tecido fibroso, que vão se acumulando nas paredes das artérias. Quanto mais placa se acumula nas artérias, mais endurecidos ficam os vasos e mais prejudicado fica o fluxo sanguíneo, impedindo que o sangue seja levado a órgãos e músculos e resultando na manifestação de sintomas.
A endarterectomia pode ser utilizada para tratar várias artérias, porém seu uso mais comum é nas artérias carótidas, que ficam localizadas no pescoço e levam sangue até o cérebro. As condições mais comumente tratadas através da endarterectomia são listadas a seguir: doença arterial carotídea, doença arterial obstrutiva periférica (artérias dos braços ou pernas), doença oclusiva aortoilíaca, doença da artéria renal e doenças das artérias viscerais (intestinos, baço e fígado).
As contra-indicações à realização da endarterectomia incluem doenças clínicas graves que aumentem consideravelmente o risco cirúrgico e doença arterial difusa (placa aterosclerótica muito extensa que não pode ser completamente removida durante a cirurgia).
Preparação
Dependendo da localização da área afetada, o cirurgião poderá recomendar a suspensão de medicamentos antiplaquetários, como aspirina ou clopidogrel, durante alguns dias previamente ao procedimento. Além disso, pacientes com doença arterial obstrutiva periférica poderão ser submetidos a uma investigação cardiovascular mais rigorosa, para diminuir o risco de ataque cardíaco. Finalmente, outros testes que podem ser solicitados para ajudar a determinar o grau de comprometimento das artérias incluem a ecografia vascular com Doppler, a angiotomografia computadorizada, a angiorressonância magnética e a angiografia.
Antes do procedimento, o cirurgião dará ao paciente instruções específicas conforme o caso, como, por exemplo, a necessidade de suspender ou manter outros medicamentos e o tipo de jejum ou preparação que o paciente deve fazer (normalmente, solicita-se um jejum completo de 6 horas antes do procedimento).
Descrição do procedimento
Os detalhes do procedimento dependem da localização da artéria a ser tratada. A anestesia pode ser geral ou local, conforme a experiência da equipe e a preferência do cirurgião.
Durante a endarterectomia, uma incisão é feita na pele para expor a artéria comprometida. Então, a artéria é temporariamente pinçada para interromper o fluxo e permitir sua manipulação. O cirurgião faz uma incisão diretamente na área afetada e remove o revestimento interno da parede arterial, juntamente com a placa de aterosclerose. Uma vez que a placa é removida, o cirurgião pode utilizar um enxerto (remendo feito de material sintético ou de parte de outra veia do próprio paciente) para alargar a área afetada. Finalmente, a artéria é suturada, o fluxo é liberado e eventuais sangramentos são controlados.
Pós-operatório
Dependendo da localização da endarterectomia, o paciente fica hospitalizado por 1 a 2 dias, para monitorar o resultado da cirurgia e a ocorrência de complicações (em casos que exigem incisão na região abdominal, o período de hospitalização pode chegar a 5 ou até 7 dias). Logo após o procedimento, o paciente recebe fluidos e nutrientes através de um cateter endovenoso.
Aproximadamente 1 mês após a cirurgia, o paciente deve voltar a se consultar com o médico para uma revisão. No entanto, ao observar qualquer sintoma atípico, como fraqueza, formigamento, dificuldade para falar, problemas de visão, dor no peito, febre, calafrios, secreção ou vermelhidão, inchaço ou dores crescentes no local da cirurgia, dificuldade para respirar ou vômitos persistentes, o médico deverá ser notificado imediatamente.
A longo prazo, mudanças de estilo de vida são fundamentais para evitar que depósitos de placa voltem a se formar. Alguns exemplos incluem: manter uma dieta com baixos níveis de gordura saturada, colesterol e calorias, fazer exercícios aeróbicos regularmente, manter o peso ideal, evitar o fumo e rever regularmente com o médico o uso de medicamentos antiplaquetários e de controle do colesterol.
Complicações
A saúde geral do paciente é um dos principais fatores de risco na realização da endarterectomia. Embora o tipo e o risco de complicações varie conforme a localização do procedimento, os seguintes fatores aumentam as chances de complicações: idade avançada, presença de doenças graves (câncer, por exemplo), presença de placa de aterosclerose extensa em outros vasos, realização prévia de endarterectomia na mesma região, pressão alta não controlada, diabetes, insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva e dor torácica.
As complicações pós-operatórias dependem da localização da artéria tratada. Para uma endarterectomia de carótida, por exemplo, o risco de desenvolver um derrame varia entre 1 e 3%. As complicações gerais da endarterectomia incluem hemorragia, trombose precoce, recorrência de estreitamento na artéria tratada (reestenose), infecção ou problemas cardíacos.
Antes da realização da endarterectomia, os riscos associados à cirurgia precisam ser contrapostos aos riscos da não-realização do procedimento. O cirurgião vascular é o profissional mais indicado para auxiliar o paciente a tomar a decisão adequada.