Reparo cirurgico de aneurismas

Dr. Fábio Gallette - Cirurgia Vascular

Aneurismas são dilatações que se formam nas artérias, devido ao enfraquecimento das suas paredes. São problemas sérios de saúde porque qualquer ruptura da artéria afetada resulta em hemorragia interna grave e pode, portanto, ser fatal. Além disso, aneurismas podem causar a formação de coágulos e bloquear o fluxo sanguíneo.

A artéria mais comumente afetada por aneurismas é a aorta, a maior artéria do corpo humano. Ela leva sangue rico em oxigênio do coração para as demais partes do organismo. É chamada de aorta torácica no segmento que passa pelo tórax e de abdominal quando chega ao abdômen. Os aneurismas podem afetar as duas porções da aorta, além de outras artérias do corpo, mas o aneurisma de aorta abdominal é o tipo mais comum.

Atualmente, há duas formas disponíveis para o tratamento de aneurismas: o reparo aberto ou cirúrgico e o tratamento endovascular, com implante de endoprótese. A escolha do método mais apropriado para cada caso depende de vários fatores, como localização e formato do aneurisma e a condição geral de saúde do paciente (por exemplo, aneurismas sintomáticos, de tamanho significativo, que impõem risco à saúde de pacientes em bom estado clínico, normalmente são tratados pelo método aberto; já pacientes com fatores de risco para a realização de cirurgia aberta são bons candidatos ao tratamento endovascular). Além disso, nem todo aneurisma requer tratamento imediato. Em alguns casos, o médico pode recomendar apenas observação clínica, ou seja, o monitoramento periódico do aneurisma, a fim de detectar eventuais alterações.

Quando o AAA é pequeno (até aproximadamente 5 cm de diâmetro), o médico normalmente recomenda um período de observação de 6 meses, durante os quais o aneurisma é monitorado para verificar mudanças de tamanho. Em pacientes hipertensos, o médico pode prescrever medicamentos para controlar a pressão arterial e, consequentemente, baixar a pressão sanguínea na área afetada. Fumantes devem procurar ajuda para parar de fumar.

O cirurgião vascular pode recomendar a realização de uma cirurgia aberta para tratar AAAs sintomáticos com mais de 5 centímetros de diâmetro ou que tenham apresentado aumento durante o período de observação. Em alguns casos, a cirurgia pode ser indicada em aneurismas com diâmetro menor. A cirurgia pode ser eletiva (isto é, programada) ou de emergência (quando há risco ou presença de ruptura). Dores nas costas e no abdômen podem ser indicativas de que o aneurisma está prestes a romper.

Preparação

Primeiramente, o cirurgião fará uma entrevista detalhada com o paciente, incluindo aspectos como saúde geral (fumo, pressão arterial, etc.), história familiar e sintomas (quando e com que frequência acontecem). Paralelamente a essa entrevista, o médico realiza um exame clínico (pulsação aumentada da aorta abdominal e sopro à ausculta com o estetoscópio são indicativos de aneurisma). Em seguida, alguns exames são realizados para confirmar a presença do aneurisma, verificar seu tamanho e definir sua localização exata. Entre eles, é possível citar ecografia vascular com Doppler colorido, angiotomografia computadorizada, angiorressonância magnética e angiografia.

Paralelamente ao estudo do aneurisma é realizada uma avaliação clínica rigorosa do estado de saúde do paciente: avaliação cardiorrespiratória, função renal, função hepática, presença de diabetes, estudo das carótidas, avaliação da coagulação, entre outros.

Antes do procedimento, o cirurgião dará ao paciente instruções específicas conforme o caso, como, por exemplo, a necessidade de suspender ou manter medicamentos e o tipo de jejum (normalmente 8 horas) ou preparação que o paciente deve fazer.

Descrição do procedimento

A cirurgia convencional do AAA é um procedimento seguro e com resultado excelente. A operação dura em torno de 4 horas e é realizada com anestesia geral. Através de uma incisão no abdômen, o cirurgião expõe o aneurisma. A aorta é pinçada acima e abaixo para evitar sangramento. O aneurisma é aberto, coágulos e materiais ateromatosos do interior do aneurisma são removidos, e uma prótese tubular sintética é costurada acima e abaixo do aneurisma, substituindo o segmento arterial doente. As pinças são removidas e o fluxo de sangue é liberado para as pernas. O paciente fica hospitalizado por 5 a 7 dias.

Os aneurismas da aorta torácica podem ser corrigidos por esta mesma técnica.

Aneurismas menores que comprometem as artérias do membro inferior, como o aneurisma da artéria poplítea podem ser totalmente removidos e posteriormente substituídos por um enxerto feito de material sintético ou segmento de uma veia do próprio paciente.

Pós-operatório

O paciente submetido ao reparo cirúrgico de um AAA pode ficar hospitalizado por 5 a 7 dias, dependendo do seu quadro geral de saúde. Alguns casos podem necessitar de cuidados intensivos além das 24-48 horas após a cirurgia.

Ao receber alta, o paciente deverá seguir instruções específicas, como por exemplo, não levantar peso até que o local da incisão esteja completamente cicatrizado. Avaliações periódicas com o cirurgião vascular são importantes para avaliar o funcionamento correto do enxerto na aorta e as condições circulatórias do paciente.

A longo prazo, mudanças de estilo de vida são fundamentais para maximizar os efeitos da cirurgia. Alguns exemplos incluem: controlar a pressão arterial, diminuir os níveis de colesterol, manter uma dieta com baixos níveis de gordura, colesterol e calorias, fazer exercícios aeróbicos regularmente (por exemplo, caminhadas de 20 a 30 minutos 5 vezes por semana), manter o peso ideal e parar de fumar.

Complicações

Pacientes com problemas sérios de saúde associados a idade avançada têm maior chance de complicações durante o reparo cirúrgico de aneurismas. Outros fatores que aumentam as chances de complicações são citados a seguir: insuficiência cardíaca congestiva, diabetes, insuficiência renal, doença pulmonar obstrutiva crônica, história de ataque cardíaco ou doença arterial coronariana e dor frequente no peito (angina). Tais problemas de saúde devem ser avaliados e tratados antes da realização do procedimento.

Após o procedimento, o paciente pode apresentar complicações leves, como inchaço ou dor leve na incisão. Complicações mais sérias podem incluir problemas cardíacos, respiratórios, renais e da circulação do intestino grosso (cólon).

Tardiamente, podem ocorrer hérnias da parede abdominal, especialmente em pacientes obesos. Aderências intra-abdominais (bridas) e aneurisma na linha de sutura entre a prótese e a artéria normal também são complicações tardias, no entanto infrequentes.

Às vezes, a manipulação cirúrgica de um AAA pode resultar em cicatrizes que afetam os nervos que controlam a produção de sêmen e a ereção. Homens com função sexual normal antes do procedimento podem passar a apresentar dificuldades na ereção e ejaculação retrógrada (o sêmen é direcionado para a bexiga em vez de para fora, sendo expelido posteriormente, junto com a urina).

Um complicação grave, porém bastante rara, que pode ocorrer após o reparo cirúrgico de AAA é a paralisia da parte inferior do corpo devido à diminuição da circulação da medula.

Todas as complicações citadas são infrequentes em casos de cirurgia eletiva, porém a incidência aumenta em casos de cirurgias de emergência.

A cirurgia convencional do AAA é um procedimento seguro e com resultado excelente a longo prazo.

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